Aleixo Mikhailovitch (Galeria de retratos do castelo de Gripsholm, Estocolmo, Suécia)
Alexandr Borodin, séc. XIX, por Egorovic Makovski (Museu de Cultura Musical de Glinka, Moscou, Rússia)
Alexandre I Pavlovitch (Museu Histórico, Moscou, Rússia)
Alexei II
Altai russo
Anton Pavlovitch Tchekhov (esquerda) junto a Máximo Gorki
Bandeira oficial da Federação Russa
Boris Fiodorovitch Godunov, séc. XVIII (Museu Histórico de Moscou, Rússia)
Borís Nikoláievich Yeltsin
Catarina II, séc. XVIII (Castillo de Miramar, Trieste, Itália)
Cidade de Omsk, nas margens do rio homônimo
Estação espacial Mir
Grigori Yefimovitch Rasputin
Hino oficial da Federação Russa
Ígor Stravinski
Iósif Stalin
Ivan Sergueievitch Turgueniev, retrato anônimo, séc. XIX (Coleção particular)
Lago Baikal
Lev Trotski
Mijaíl Serguéievich Gorbachov
Mistério Bufo, 1918, por Vladimir Vladimirovitch Maiakovski (Museu Maiakovski, Moscou, Rússia)
Nicolái Andreievitch Rimski-Korsakov. Schéhérazade
O tsar Nicolau I, 1843, por A.P. Schwabe (Museu Estatal de História, Moscou, Rússia)
Pedro I o Grande
Piotr Ilich Tchaikovski. Concerto para Piano e Orquestra nº 1
Piotr Ilich Tchaikovski. O Quebra-Nozes
Piotr Ilitch Tchaikovski, 1893, por N.D. Kuzmetsov (Galeria Tretiakov, Moscou, Rússia)
Quadrado Vermelho, 1915, por Kazimir Malevitch (Museu do Estado Russo, São Petersburgo, Rússia)
República Autônoma da Tchetchênia A capital Grozni, depois de um ataque aéreo russo, 1999
Revolução Russa
Rússia A catedral São Basílio, séc. XVI, na Praça Vermelha de Moscou
Rússia Cena do filme Ivan, o Terrível, 1943, dirigida por Serguei Mikhailovitch Eisenstein
Rússia Fiodor Mikhailovitch Dostoievski
Rússia Mapa econômico
Rússia O rio Ienissei, perto de Igarka, na Sibéria
Rússia O tsar Nicolau II e a sua família
Rússia Vladimir Putin (direita) junto a Kim Jong II, presidente da República Democrática Popular da Coreia
Vladímir Ilich Uliánov Lenin
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Rússia Rossiskaya Federatsiya Estado da Europa e da Ásia, que compreende grande parte da Europa Oriental e da Sibéria, desde o mar Báltico até o oceano Pacífico e desde o oceano Ártico ao mar Negro. É limitado ao SE pela República Popular da Coreia; ao S, pela Geórgia, Azerbaijão, Casaquistão, China e Mongólia; ao SO, pela Letônia, Bielorrússia e Ucrânia e ao O, pela Noruega, Finlândia e Estônia. Com uma superfície de 17.075.400 km² e uma população de 143.056.400 habitantes, o país divide-se em 49 províncias, 6 territórios, 21 repúblicas, 10 circunscrições autônomas, uma província autônoma e 2 cidades autônomas. Capital: Moscou. Língua oficial: russo. Religiões mais difundidas: cristã-ortodoxa e muçulmana.
Geografia• Meio físico• Geomorfologia A Rússia estende-se da Europa Oriental até os Urais, é constituída por uma extensa planície, acidentada, na parte central, pelas colinas de Valday, as colinas da Rússia central e as elevações do Volga. Próximo a este rio, localiza-se a região dos Urais, limite convencional entre a Europa e a Ásia, que desce gradualmente até os mares Negro e Cáspio, cujas bacias são dominadas pela cordilheira do Cáucaso. A Sibéria, de morfologia diversificada, compreende a Sibéria Ocidental, o planalto da Sibéria Central e os territórios do Oriente. A Sibéria Ocidental é constituída, fundamentalmente, por uma planície contínua ao longo de cerca de 2.000 km, e delimitada ao O pelos Urais, ao S pelas elevações do Cazaquistão, as cordilheiras do Altay e os montes Sayan, e ao E pelas escarpas do planalto da Sibéria Central. O extenso planalto da Sibéria Central é limitado, ao S, pelas poderosas cadeias montanhosas que são rebordo das estruturas rígidas dos planaltos da Mongólia. O extremo oriental da Sibéria, além do Lena, abrange um complexo sistema montanhoso cujas principais cordilheiras são os montes Verkoyansk (2.389 m) e Chersky (3.003 m no pico Pobedy). O extremo oriental é ocupado pelo planalto de Anadyr (1.843 m), entre os oceanos Ártico e Pacífico, ao longo do qual se alinham, no sentido meridiano, os montes do Kolyma, Dzhugdzhur e Sihote-Alin, situados frente ao arco das montanhas da ilha Sacalina e da península de Kamchatka, que, com o arco insular das Kurilas, fecha o mar de Okhotsk. Nesta zona que faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico, existem grandes vulcões (Kljucevskaja Sopka, 4.750 m, topo de Kamchatka).• Hidrografia, clima e vegetação Principais rios da Rússia: Volga, Ural e Terek (bacia do mar Cáspio); Don e seu afluente, o Donec (bacia do mar de Azov); Dvina Ocidental e Neva (bacia do Báltico); Onega e o Dvina Setentrional (bacia do mar Branco) e Pecora (bacia do mar de Barents). Principais rios da Sibéria: Obi e afluente (Irtys), Pur, Taz e Ienissei (bacia do mar de Kara); Kotuj, Anabar, Olenkëk e Lena (bacia do mar de Laptev); Jana, Indiguirka, Kolyma e Paljavaam (bacia do mar da Sibéria Oriental); Amur, Uda, Anadyr, Penzina (bacia do mar de Okhotsk). Das inúmeras bacias lacustres, destacam-se na Europa os lagos Ladoga e Onega, e no S da Sibéria, o Baikal (-1.620 m), o mais profundo da Terra.Nas planícies russas, o inverno é muito rigoroso (temperatura média de janeiro e julho -10 °C e 17 °C em Moscou, -7 °C e 16 °C em São Petersburgo, e -20º °C e 10º °C na costa do mar de Barents); a precipitação é inferior a 800 mm anuais e decresce ao E e ao SE. Na Sibéria, o clima é ainda mais rigoroso (temperatura mínima até -70 °C no planalto, sendo a média de janeiro e julho de -48°C e 13 °C; Vladivostok, na latitude da Europa Central, por se localizar na costa, apresenta médias em janeiro e julho de -10 °C e 20 °C); a precipitação oscila entre 500 mm anuais e menos de 250 mm na franja mais setentrional.Na parte europeia, a tundra estende-se ao longo da fachada ártica, e ao S é subtituída pela taiga de pinheiros, abetos e bétulas, e mais ao S pelo bosque misto de caducifólios e coníferas. Na zona das elevações do Volga, aparecem as estepes. Junto aos mares Cáspio e Negro crescem espécies subtropicais, mediterrânicas. A maior parte da região siberiana é dominada pelo bosque boreal de coníferas (taiga), que ao N cede lugar à tundra.• População e povoamento A população é formada por russos (81,5 %), tártaros (3,8 %), ucranianos (3 %), čuvašs (1,2 %), baškirs (1 %), bielorrussos (0,8 %) e mordovianos (0,7 %), entre outros. Em geral, a sua composição é bastante homogênea nos diferentes territórios do país. A taxa de mortalidade é bastante superior à de natalidade, sendo a esperança de vida reduzida, o que se reflete em um índice de crescimento populacional negativo.A parte mais povoada é a europeia, onde as maiores porcentagens populacionais se registram no grande conjunto industrial situado em um raio de 200-300 km ao redor de Moscou, com mais de 50.000.000 de hab. As outras zonas mais povoadas são os Urais e São Petersburgo. Na Sibéria e na parte oriental, a população concentra-se na região industrial de Kuzbass e nos núcleos disseminados ao longo do eixo Transiberiano.• Estrutura econômicaA economia russa apresenta uma máquina produtiva de consideráveis proporções, no entanto uma série de fatores sociais e econômicos representam um obstáculo ao desenvolvimento do país.• Agricultura, pecuária e pesca Agricultura: cereais (especialmente trigo, cevada, aveia e centeio), beterraba, oleaginosas, algodão, batata, legumes, linho, árvores de fruto e vinha. Exploração florestal (um dos dez maiores produtores mundiais de madeira).Criação de gado bovino e aves (espalhada por todo o país) para a produção de leite, carne e seus derivados. Pesca (sexto lugar mundial por volume de pesca) com modernas instalações nos portos de Murmansk, Nikolaievsk na Amure e Petropavlovsk-Kamchatsi. A pesca do esturjão concentra-se em Astrakan e no baixo Volga.• Mineração e indústria As jazidas de ferro e carvão mais importantes encontram-se na Rússia (Pecora, margem E do Donbass, zona de Moscou e nos Urais) e na Sibéria (Kuzbass, Kansk, Acinsk, Saha, Kamchatka e na ilha Sacalina). O país é também um dos principais produtores de petróleo (as jazidas da Sibéria Ocidental, bacia do rio Obi, proporcionam mais da metade da produção russa). O gás natural (primeiro produtor mundial) é extraído no Cáucaso setentrional, na bacia do Volga, nos Urais e, sobretudo, nos campos do N da Sibéria (Urengoy). Destacam-se ainda a produção de manganês, níquel, cromo, urânio, estanho, platina, ouro e cobre.A produção de energia elétrica é 64,3 % de origem térmica, 14,8 % hidráulica e 12,8 % nuclear. A indústria pesada é um dos setores chave da economia russa. Os principais centros siderúrgicos concentram-se na zona central da parte europeia, nos Urais e na zona siberiana. Relativamente à metalurgia, é importante a produção de alumínio, cobre, chumbo e zinco, magnésio e níquel. As principais refinarias de petróleo
encontram-se em Grozny, Tuapse, Orsk, Samara, Moscou, Yaroslavl e Omsk. Os centros da indústria química localizam-se em Novosomoski, Perm, Kirovsk, Krasnouralsk e Solikamsk. A produção de fibras artificiais concentra-se nas áreas industriais de Moscou e São Petersburgo, que também conta com indústrias de pneumáticos e plásticos, e com as principais fábricas da indústria farmacêutica. A indústria mecânica, muito desenvolvida, dedica-se à fabricação de tratores, maquinaria agrícola, automóveis e material ferroviário. A indústria aeronáutica tem sede em Moscou, Rybinsk, Nizni Novgorod e Samara, e a construção naval conta com estaleiros de relevo em São Petersburgo, Arhangelsk e Murmansk. Moscou e São Petersburgo são os centros mais importantes da eletrônica e da mecânica de precisão, e entre as restantes indústrias, destaca-se a têxtil, de cimento, tabagista e produtos alimentícios.• Infraestruturas de comunicação e balança comercial As enormes distâncias que separam os grandes centros urbanos e industriais dificultam as comunicações. A rede ferroviária desempenha um papel fundamental, especialmente, o Transiberiano (9.300 km entre Moscou e Vladivostok). A rede viária não é muito densa, e as vias internas navegáveis constituem uma rede extensa, cujos eixos mais importantes são o Volga, e os rios e canais que ligam os mares Báltico, Branco, Cáspio, Azov e Negro. Principais portos: São Petersburgo, Arhangelsk, Murmansk, Astrakan, Vladivostok, Nahodka, Petropavlovsk-Kamchatski, Magadan, Kaliningrado, Soci e Novorossijsk. Aeroportos: Moscou (3), São Petersburgo, Novosibirsk, Nisni Novgorod e Iekaterinburg.As trocas comerciais, com balança de elevado superávit efetuam-se principalmente com a Alemanha, Ucrânia, EUA e Bielorrúsia. As exportações baseiam-se no petróleo e produtos petrolíferos, gás natural, madeira e seus derivados, metais, produtos químicos e uma vasta gama de produtos para fins militares. As importações são compostas, sobretudo, por maquinaria, artigos de consumo, fármacos, cereais, açúcar e produtos alimentícios e metálicos semi-elaborados. História• Origens e época antigaNeste vasto território, habitado desde o Paleolítico, conviveram historicamente inúmeras populações, algumas das quais fora da esfera russa até épocas muito recentes. Quanto às tribos eslavas que deram origem à matriz do povo russo, surgiram na Europa centro-oriental nos finais da Antiguidade. Anteriormente, o litoral N do mar Negro tinha sido habitado, entre os sécs. VIII e III a.C., pelos citas, nômades originários dos montes Altay que entraram em contato com as colônias gregas de Ponto Euxino. Conquistados por Mitridates do Ponto (106 a.C.), os citas foram-se diluindo entre os sármatas alanos vindos do este. A partir do séc. III, coincidindo com a chegada dos godos, os citas desapareceram definitivamente. A origem dos primeiros estados russos teve início com a emigração dos eslavos orientais desde as bacias superiores dos rios Vístula, Dniester e Dniepre até o mar Negro, iniciada após a extinção do Império Huno (453). Os primeiros burgos surgiram entre os sécs. VIII e IX, quando os suecos, chegaram ou varegos, que criaram uma grande rede comercial entre os mares Báltico e Negro. Em 862, o varego Rjurik estabeleceu-se em Novgorod; o seu parente Oleg ocupou Kiev (882), submetendo as tribos eslavas do Sul. Igor (913-945), filho e sucessor de Rjurik, tornou-se príncipe de Kiev, constituindo nos sécs. IX-XII uma ameaça para o Império Bizantino, apesar da forte influência bizantina que caracterizou o reinado de Vladimir (980-1015), casado com a princesa bizantina Ana Comneno. A religião cristã (988) foi declarada religião oficial. O principado, dividido após a morte do príncipe Yaroslav (1054) entrou em decadência, favorecendo o fortalecimento dos principados de Galícia, Novgorod e Vladimir-Suzdal.• A ascensão de MoscouEm 1237, os mongóis de cão Batu invadiram as terras russas. Os principados de Riazan, Vladimir-Suzdal e de Galícia foram arrasados e Kiev incendiada (1240). Por seu lado, Alexander Nevsky de Novgorod, que havia derrotado os suecos e os teutônicos, conquistou, através do apoio dos mongóis da Horda de Ouro, o principado de Vladimir-Suzdal (1252-1263). O seu filho Daniel recebeu o pequeno Principado de Moscou (1263), ligando a sua sorte à Horda de Oro que, em 1328, outorgou a Ivan I de Moscou o título de Grão-Príncipe. Moscou aumentou o seu território anexando os principados mais débeis e tornou-se a capital religiosa russa. Ivan III (1462-1505) dominou todos os principados do N e do NE. Tomada Constantinopla pelos turcos (1453), Ivan III, casado com a princesa bizantina Sofia Paleóloga (1472), proclamou Moscou a "terceira Roma", e os seus príncipes, herdeiros dos césares de Bizâncio. Ivan IV (1533-1584) foi o primeiro dos príncipes de Moscou que tomou o título de tsar (césar). A Ivan IV sucedeu Boris Godunov, um membro da nobreza feudal, fato que conduziu a um longo período de lutas internas. A invasão polonesa de Moscou (1610) provocou um levantamento russo generalizado, que logrou expulsar os invasores (1612). Em 1613, era entronizado Miguel I, fundador da dinastia Romanov. Em 1654, a sublevação antipolonesa dos cossacos do Dniepre permitiu a anexação da Ucrânia Oriental. Nos finais do séc. XVII, teve lugar a colonização da Sibéria ocidental. Pedro I o Grande (1682-1725) abriu a Rússia ao comércio ocidental arrebatando dos suecos uma importante franja litoral no golfo da Finlândia, onde fundou a nova capital, São Petersburgo. Catarina II (1762-1796), após a partilha da Polônia, anexou a Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia (1796). No S, derrotados os otomanos, ocupou Azov e Crimeia (1783); ao E, foi descoberta Kamchatka e chegou-se ao estreito de Bering e Alasca. Desenvolveu-se a indústria e as comunidades urbanas, criaram-se novas cidades (Iekaterinburg) e portos (Sevastopol). Porém, 800.000 camponeses livres foram submetidos à servidão e as suas insurreições foram numerosas (Pugacëv, em 1773-1774).• Império e revoluçãoO apoio prestado pela Rússia ao Reino Unido favoreceu a invasão das tropas napoleônicas (1812), que sofreram uma importante derrota. O tsar Alexandre I (1801-1825) foi protagonista da política europeia. No Congresso de Viena (1815), Alexandre I obteve a criação do reino da Polônia, submetido ao Império russo, e conquistou a Geórgia, Finlândia e Bessarábia. Nicolau I (1825-1855) continuou a expansão na Armênia, porém, foi derrotado na Guerra da Crimeia (1853-1856). No interior do país, a sua política reacionária baseou-se na autocracia, na repressão policial contra os opositores (Pushkin, Gogol, Lermontov), na religião ortodoxa e na russificação dos povos conquistados. As contínuas sublevações camponesas foram brutalmente esmagadas. Em 1861, o tsar Alexandre II suprimiu a servidão, entregando aos antigos servos pequenos lotes de terra, que não garantiam a subsistência. Entre 1861 e 1863, registraram-se 2.000 insurreições agrárias. As reformas liberais de Alexandre II adquiriram com os seus sucessores Alexandre III (1881-1894) e Nicolau II (1894-1917) um caráter conservador. Contudo, a burguesia liberal reclamava instituições políticas do tipo ocidental, enquanto a ala bolchevique (marxistas) dos sociais-democratas, liderada por Lenin, alcançava o apoio do proletariado, urbano e rural, que, sujeito a duras condições de vida, começava a confiar apenas na via revolucionária, fato demonstrado na Revolução de 1905, que a derrota da armada russa na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) anulou.• A formação da URSSA derrota das tropas russas durante a Primeira Guerra Mundial acelerou a crise tsarista, especialmente durante o inverno de 1916-1917. Nicolau II suspendeu a Duma (parlamento). Os bolcheviques exigiram a formação de um governo provisório, em 12 de março de 1917, operários e soldados atacaram os edifícios oficiais de São Petersburgo, pondo fim ao governo do tsar e estabelecendo um duplo poder: um Comitê Executivo da Duma e um Soviete de soldados e operários. Idêntica situação era vivida em Moscou e outras cidades. Nicolau II abdicou em favor do seu irmão Miguel (16 de março), que não aceitou a coroa, pelo que a monarquia ficava abolida de fato. Os bolcheviques controlaram todos os sovietes, especialmente o de São Petersburgo, presidido por Trotski. A máxima lançada por Lenin de "todo o poder para os sovietes" foi o leit motiv da insurreição bolchevique (23 de outubro), que em 8 de novembro formava um Conselho de Comissários do Povo, presidido por Lenin (Revolução Russa). Os bolcheviques, assinada a paz com os impérios centrais (paz de Brest-Litovsk, 1918), tiveram de enfrentar o bloqueio marítimo imposto pelos britânicos, franceses e americanos, e a guerra civil instada pelas forças contrarrevolucionárias (exércitos brancos) e a rebelião dos países dominados pela Rússia tsarista (Polônia, Finlândia, as repúblicas bálticas, Bielorrúsia, Bessarábia e Transcaucásia), que proclamaram a sua independência. Após três anos de luta, o Exército Vermelho bolchevique, organizado e dirigido por Trotski, derrotou os contrarrevolucionários de Wrangel. Em 30 de dezembro de 1922 nascia a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).• A Federação Russa SoviéticaDentro da URSS, a Rússia desempenhou um papel central e hegemônico acentuando a russificação total dos territórios. Durante a II Guerra Mundial, o exército alemão ocupou parte do território russo e sitiou Leningrado (atual São Petersburgo) e Stalingrado (atual Tsaritsin), cuja resistência marcou o início da vitória soviética. Finalizada a guerra, a Rússia incorporou os territórios da Prússia Oriental, a República de Tuva e as ilhas Kurilas. Sob os mandatos de Stalin, N. Khruschov e L. Brezhnev, a Rússia liderou o desenvolvimento industrial e tecnológico que converteu a URSS em uma das duas grandes potências mundiais, exercendo, no contexto da Guerra Fria, a liderança do denominado bloco comunista. No entanto, a economia planificada do regime soviético começou a dar sinais de esgotamento entre as décadas de 1970 e 1980, impondo-se a necessidade de reformas modernizadoras.• A transição democráticaA partir de 1985, a política reformista ( perestroika) do secretário-geral do PCUS, M. Gorbachev, teve consequências internas e externas (cimeira de Malta, 1989, acordo entre M. Gorbachev e o presidente dos EUA, G. Bush). Internamente, foi reformada a Constituição, sendo o Congresso de Deputados do Povo eleito com base em candidaturas múltiplas. A profunda crise econômica e política levou o Parlamento (1990) a pôr fim ao monopólio político do Partido Comunista (PCUS), instaurando um sistema presidencialista, com Gorbachev na liderança. As eleições gerais e municipais desse ano deram a vitória aos radicais e reformistas. Foi eleito presidente o candidato do PCUS, Boris Ieltsin, reeleito, por sufrágio universal, em 1991. Gorbachev, abandonado pelos reformistas, sofreu um golpe de Estado em agosto de 1991, protagonizado por elementos conservadores do PCUS. A resistência armada ao golpe, encabeçada por Ieltsin, acelerou o processo reformista. O PCUS foi proibido e, em 17 de dezembro, os presidentes da Rússia, Bielorrúsia e Ucrânia proclamavam o fim da URSS e a constituição da Comunidade de Estados Independentes (CEI), que foi constituída na reunião de Alma-Ata, no dia 21. A CEI era integrada por onze das quinze repúblicas. A Geórgia integrar-se-ia em 1993, tendo as repúblicas bálticas seguido caminhos distintos. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev demitiu-se de todos os seus cargos e no Kremlin foi içada a bandeira tricolor russa. No dia seguinte, procedia-se à dissolução do Soviete Supremo.• De Ieltsin a PutinA política reformista do primeiro-ministro E. Gaidar foi rejeitada pelo Parlamento, que forçou a sua destituição. Ieltsin encarregou então V. Chernomirdin, um reformista moderado, da formação de um novo governo (1992). Em março, foi assinado o tratado da Rússia, rejeitado pelas repúblicas da Tchetchênia-Ingussétia e da Tartária. Perante a contínua oposição do Parlamento à sua política, Ieltsin dissolveu-o (21 de setembro de 1993) e convocou eleições legislativas. Os deputados opositores, encerrados na sede da Câmara, votaram a destituição de Ieltsin e a sua substituição pelo vice-presidente, A. Rutskoi. Ieltsin, com o apoio dos chefes militares, ordenou o bombardeamento e posterior assalto do Parlamento (3 e 4 de outubro). Após as eleições de 12 de dezembro, formou-se um novo Parlamento de maioria reformista. V. Chernomirdin foi confirmado como primeiro-ministro. A ruptura das antigas estruturas políticas e econômicas e a falta de consolidação das novas provocaram a hegemonia das máfias em amplos setores. Em 1994, as tensões étnicas na Tchetchênia deram lugar a uma insurreição secessionista e a uma guerra aberta entre a guerrilha separatista e o exército russo, que tomou Grozni após 40 dias de intensos combates. Em 1995, chegou-se a um acordo com a Ucrânia na partilha da frota do mar Negro e à permanência da base russa de Sevastopol. Em 1996, Ieltsin foi reeleito presidente e, de novo, confirmou V. Chernomirdin na presidência do governo. Nesse mesmo ano, a Rússia integrou o Conselho da Europa, assinou um acordo fronteiriço com a China, reafirmado em outubro de 2004 com a totalidade de fronteiras definidas legalmente, e iniciou negociações com o Japão sobre o contencioso das Kurilas. Em 1998, o desastre financeiro que se seguiu à queda da bolsa de Moscou e a consequente demora face ao pagamento da dívida já existente, congelou as ajudas do Banco Mundial. Em paralelo, uma nova crise política provocou a queda do governo de S. Kiriyenko. Ieltsin designou novamente V. Chernomirdin, mas o Parlamento recusou-o, nomeando Y. Primakov, que formou governo em aliança com os comunistas. A crise do Kosovo e os bombardeamentos da OTAN à Iugoslávia (março de 1999), apesar da condenação de Moscou, evidenciaram a incapacidade russa para evitar a intervenção da OTAN nos territórios dos seus antigos aliados. Em agosto, uma nova mudança de governo, com V. Putin à cabeça, pôs a descoberto a política errática do presidente. Paralelamente, recrudescia o conflito na Tchetchênia com a tomada de várias cidades do Daguestan pelos guerrilheiros islamitas tchetchenos, que desencadearam uma onda de atentados terroristas em Moscou, provocando dezenas de vítimas. O primeiro-ministro Putin ordenou uma nova ofensiva contra a Tchetchênia, que se mantinha praticamente independente desde 1996. Em 31 de dezembro de 1999, Ieltsin anunciou a sua renúncia à presidência. As eleições presidenciais antecipadas em março de 2000 deram a vitória ao ex-primeiro-ministro Putin, apesar da denúncia de graves irregularidades eleitorais. A presidência de Putin foi marcada por um processo de centralização do poder do presidente em face da Duma e aos governos regionais. Na Tchetchênia, a destruição da capital e o seu controle por parte do exército russo não bastou para sufocar a resistência tchetchena armada sob a forma de guerrilha e atentados terroristas. Em 2002, a Rússia assinou um acordo de cooperação com a OTAN, abrindo as portas à participação russa nos debates da organização, embora sem direito de veto. Em março de 2003, foi celebrado na Tchetchênia um referendo que aprovou o projeto de constituição elaborado pelo governo russo onde lhe foi concedido o estatuto de república autônoma, embora como parte integrante e inalienável da Rússia. Em setembro, foi eleito presidente da Tchetchênia o candidato pró-russo Akhmed Kadirov. Em março de 2004, V. Putin ganhou, de novo, por ampla maioria, as eleições presidenciais. Um mês depois, o conflito tchetcheno reavivou-se com o assassinato de A. Kadirov em um atentado terrorista. Nesse mesmo ano, os setores mais extremistas da guerrilha tchetchena cometeram vários atos terroristas, entre os quais se destaca o assalto a uma escola de Beslan, na República Autônoma de Alânia. Nas operações de resgate morreram cerca de 300 pessoas, mais da metade eram crianças. Em outubro de 2004, a Duma ratificou o Protocolo de Quioto, o qual permitiu a entrada em vigor em escala mundial do acordo ambiental, sete anos depois de sua aprovação. Em outubro de 2006, o presidente V. Putin anunciou sua intenção de intensificar o controle da imigração georgiana, decisão que foi muito criticada pelo governo da Geórgia e que explicitou a tensa situação diplomática entre ambos países. Nas eleições presidenciais de 2008, se impôs o candidato designado por Putin, Dmitri Medvedev. Em maio de 2008, Putin foi nomeado primeiro-ministro da Rússia. No mês de agosto, o exército russo entrou em território da Geórgia como resposta à ação militar do exército georgiano sobre as regiões secessionistas de Ossétia Meridional e Abkházia, aliadas da Rússia e de grande importância estratégica no transporte energético. O posterior reconhecimento russo da independência destas duas regiões foi rapidamente condenado pelos EUA e a UE. Em setembro, a Rússia estabeleceu relações diplomáticas com a Abkházia e a Ossétia Meridional e instituiu um acordo de mobilização de bases militares permanentes nas duas regiões. ArteForam encontrados vestígios pré-históricos paleolíticos nas jazidas de Diring (250.000 anos) e Ustinovka (11500-10600 a.C.). De cronologia posterior, são os monumentos megalíticos do NO do Cáucaso. Velikent é uma jazida do Calcolítico e da Idade do Bronze. Está bem documentada a presença cita: necrópoles de Arzan, Suchanicha e vale de Ak-Alakha. Os gregos fundaram algumas colônias no atual território russo: Olbia (sécs. VI-IV a.C.) e Tanais.• Arte medievalConvertidos os príncipes de Kiev ao cristianismo (988), as relações culturais com o Império Bizantino marcaram a primeira arte russa. Construíram-se igrejas de planta central de cruz grega com cúpulas de bolbo (séc. XII). Em Novgorod, cidade muito relevante do ponto de vista artístico, estão localizadas a Catedral de São Nicolau Taumaturgo (1113), as igrejas de Santa Sofia (c. 1050) e o Mosteiro do Salvador (1198). São importantes as edificações de Vladimir (Catedral, 1158-1189). O séc. XIII, marcado pela invasão tártara, foi pobre em termos artísticos, à exceção de Novgorod (São Nicolau de Lipno, 1292). Nos afrescos da Igreja da Transfiguração (séc. XIV), Teófanes o Grego deu liberdade e expressividade ao cânone bizantino.• Do séc. XV ao séc. XVIIINo séc. XV, o papel de Moscou tornou-se predominante. Foi escassa a construção nas cidades bálticas: em Novgorod, o Paço Episcopal de Eutímio (1433), de influência gótica, e as fortificações do Kremlin (1484-1490); em Pskov, a Igreja dos santos Cosme e Damião (1462), com teto de oito vertentes. Nos afrescos da Catedral de Vladimir (1408) e em inúmeros ícones, A. Rublëv evidenciou um estilo elegante e refinado, que seguiria a escola pictórica moscovita (afrescos da Catedral de Ferapontov, de Dionysius), convertendo o séc. XV na época dourada da pintura russa. Ivan III contratou para trabalhar em Moscou o bolonhês A. Fioravanti, que na Catedral de Nossa Senhora Adormecida do Kremlin tratou de respeitar a tradição russa. A influência da arquitetura em madeira tornou-se evidente nos edifícios de pedra e tijolo (Catedral da Intercessão em Moscou, São Basílio, na Praça Vermelha, 1555-1560). No séc. XVII, foram construídos inúmeros palácios em pedra, alguns decorados com maiólica policroma (Palácio Teremskoi no Kremlin, de B. Ogurcov, 1635-1636). O maior pintor da época foi o eclético S. Ushakov (1626-1686), que trabalhou no Palácio das Armas, em Moscou. No séc. XVIII, Pedro, o Grande, exerceu enorme influência na arte e no urbanismo com a fundação de São Petersburgo. A maioria dos seus edifícos correspondem ao Barroco (Catedral dos santos Pedro e Paulo, 1712-1733, de Trezzini) e ao Rococó (Palácio de Inverno, 1754-1762, de B.F. Rastrelli, que foi também o principal escultor da época). A Academia das Belas-Artes de São Petersburgo (fundada em 1757) impôs o neoclassicismo nacional.• Do séc. XIX à atualidadeNo começo do séc. XIX, manteve-se o neoclassicismo (Catedral de Nossa Senhora de Kazan em São Petersburgo, de A.N. Voronihin, 1801-1811). Em Moscou, após o incêndio de 1812, registrou-se uma intensa atividade arquitetônica que se estendeu também às províncias, sobretudo com A.D. Zajarov. Mais tarde, aparece o revivalismo romântico de A. Thon, que criou o estilo "russo-bizantino". Relevante foi também o simbolismo (A. Berna, N. Roerich, V. Borisov-Musotov e M. Vrubel). Nos inícios do séc. XX, Moscou foi centro da vanguarda europeia, criada à volta dos seguidores de Cézanne (D. e V. Burliuk, I. Maskov, R. Falk, P. Konchalovski, A. Lentulov) ou do neoprimitivismo (M. Larionov, N. Goncharova, C. Malievitch, V. Tatlin e M. Sagal, conhecido como Marc Chagall). Nos inícios do período revolucionário da guerra civil surgiram movimentos de vanguarda abstrata (antecipada por V. Kandinski): M. Larionov, C. Malievitch e o construtivismo de V. Tatlin (Monumento à III Internacional, 1919). No entanto, foram se impondo as correntes conservadoras, responsáveis pela evolução da arte soviética. A arquitetura posterior à II Guerra Mundial caracterizou-se por um pesado e anacrônico monumentalismo (Universidade de Moscou, 1948-1953). Nas artes figurativas, prevaleceu o chamado realismo socialista. Após a queda do comunismo do Estado consolidaram-se figuras de primeira magnitude: I. Kabakov, E. Bulatov, Zvezdochotov, Volkov, V. Zakharov, K. Zvezdochotov, A. Shulgin, I. Piganov e o grupo Medical Hermeneutic. CinemaOs
estúdios cinematográficos nasceram em 1907. No ano seguinte, A.O. Drankov produziu Stenka Razin, o primeiro filme verdadeiramente nacional. Nesta época, destacaram-se I. Bauer e Y.A. Protazanov, entre outros.Após a Revolução de Outubro (1917), a produção cinematográfica, nacionalizada em 1919, tornou-se um instrumento de propaganda ao serviço da revolução e do marxismo, embora não fosse esquecida a experimentação artística e a criatividade pessoal. D. Vertov, criador da revista Kino-Pravda (cinema-verdade), fundou o grupo vanguardista Kino-Glaz (cinema-olho); L. Kulechov elaborou as suas primeiras teorias sobre a montagem no seu Laboratório experimental (1922) e o trio G. Kozintsev, L. Trauberg e S. Yutkevich criou em 1921 o grupo FEKA (Fábrica do ator excêntrico). A par de J. Protazanov (Aelita, 1924), sobressaíram também V.I. Pudovkin, A.P. Dovzhenko (Terra, 1930) e, acima de todos eles, S.M. Eisenstein, pilar fundamental do cinema russo, quer pelos seus escritos teóricos quer pelas suas inovadoras criações (O Encouraçado Potemkin).Com a chegada ao poder de Stalin (1931) o cinema, sujeito às orientações do Estado, aumentou o seu caráter propagandístico. A censura exerceu um papel determinante na eleição de uma temática que seguia as diretrizes do realismo socialista. Apesar das imposições oficiais, sobressaíram os filmes de M. Romm, F. Ermler, I. Trauberg ou A. Dovzhenko, e Eisenstein conseguiu realizar Alexandre Nevsky (1938) e Ivan, o Terrível, (1947), filme que acabou durante a II Guerra Mundial, época em que predominaram os documentários e reportagens bélicas e os filmes de propaganda patriótica.Morto Stalin (1953), a indústria descentralizou-se e nasceram pequenas cinematografias em todas as repúblicas. O afrouxamento das diretrizes totalitárias impostas pelo Estado favoreceu o surgimento de um cinema mais lírico e emotivo, representado por G. Chukhrai (O quarenta e um, 1956), S. Bondarchuk (O Destino de um Homem, 1959), G. Kozintsev (Dom Quixote, 1957) e M. Kalatozov (Quando Voam as Cegonhas, 1957), entre outros. A partir de 1965, esta tendência renovadora foi substituída por um academicismo tradicionalista e novas atitudes repressivas dificultaram o trabalho de diretores como A. Tarkovski, cujo Andrei Rublev (1966) apenas foi estreado no país muito mais tarde, apesar de ter alcançado amplo êxito internacional. Guerra e Paz, 1967, de S. Bondarchuk; Rei Lear, 1972, de G. Kozintsev; O Jogador, 1972, de A. Batalov, conheceram diretores com um estilo próprio e original: além de A. Tarkovski (Solaris, 1971; O Espelho, 1974), conseguiram destacar-se realizadores como Paradzhanov, A.Mikhalkov-Konchalovski, G. Panfilov e L. Chepitko. Porém, fato notável na década de 1970 foi a cinematografia das repúblicas federadas, com caráter próprio, onde se destacou a escola da Geórgia (O. Yoselani, T. Abuladze). Nas décadas de 1970 e 1980, junto a veteranos como Mikhalkov-Konchalovski, Panfilov, Tarkovski ou E. Klimov, apareceram novos criadores: N. Gubenko (Os Orfãos, 1976), A. Guerman ou V. Abdrashitov. Após a queda do regime comunista e o desmembramento da URSS, o cinema russo recuperou a liberdade, embora a crise econômica e a situação caótica do setor cinematográfico tenha obrigado à coprodução. No entanto, destacaram-se N. Mikhalkov (O Sol Enganador, 1994, Oscar para a melhor película de língua não inglesa; O Barbeiro da Sibéria, 1998), A. Sokurov e S. Bodrov, entre outros. LiteraturaO início da literatura em língua russa inscreve-se no quadro histórico do cisma que dividiu o cristianismo em rito romano e rito bizantino, causa do isolamento da Rússia da cultura ocidental, juntamente com as invasões tártaras (séc. XIII). Em Kiev e Novgorod, aparecem as bilinas, poemas épicos populares inspirados em diversos mitos e protagonizados por heróis lendários, os bogatiri. Os primeiros documentos escritos são obra de clérigos; textos de caráter religioso escritos em eslavo, a língua da Igreja, que remonta ao séc. XI, como o Evangelho de Ostromir. No séc. XII, a Crônica de Nestor fixa um modelo cronístico e o anônimo Poema de Igor mistura épica e técnicas de oratória. Até o séc. XV registra-se uma época de decadência cultural provocada pelos tártaros. A recuperação consolida-se definitivamente durante o reinado de Ivan IV o Terrível que se revela um notável prosador, através da sua correspondência pessoal. É no séc. XVIII com Isabel, a filha de Pedro, o Grande, que renasce a cultura russa; na literatura, V.K. Trediakovski abraçou e difundiu os princípios do classicismo francês, M.V. Lomonosov, científico e humanista, realizou uma divisão dos gêneros literários e reservou o eslavo para os textos eruditos, e Sumarokov destacou-se como trágico ao estilo de Racine. Catarina II apresenta-se como defensora das novas ideias do Iluminismo. Com espírito crítico, escritores e dramaturgos exploraram a realidade russa em diversos quadros de costumes. D.I. Fonvizin, através do seu drama O Menor de Idade (1783), assentou os rasgos prototípicos do teatro nacional russo. G.R. Derzhavin é o maior poeta da altura. Nos finais do séc. XVIII, a Rússia estava totalmente aberta às influências francesa e inglesa e os temas predominantes do momento são bastante similares aos do pré-romantismo europeu. Influenciado por Sterne e pelos romancistas ingleses, N.M. Karamzin obteve grande êxito com o romance Pobre Lisa (1792). Considerado um dos fundadores da comédia nacional russa, foi em A.S. Griboiedov que aparecem os primeiros esboços do realismo e é da produção de Pushkin que parte toda a literatura russa moderna: Boris Godunov (1824), Evgenij Onegin (1831), manifesto da corrente romântica e inspiradora do realismo, A filha do capitão (1834). Em volta de Pushkin, desenvolveu-se o romantismo (A.A. Delvig, Y.A. Baratinski, N.M. Yazíkov, A.I. Polezhaiev, A. Kolkov e, sobretudo, M. Lermontov (Um Héroi do Nosso Tempo, 1840), precedente de F. Dostoievski). O romance consolidou-se com a geração de 1840. Em N.V. Gogol, combinam-se duas correntes contraditórias, realismo e fantasia, através de uma grande habilidade para o tratamento da sátira e do humor: O Inspetor Geral (1836), O Nariz (1836), Almas Mortas (1842). O realismo produziu obras notáveis: Oblomov (1859) de Goncharov, Pais e Filhos (1862) de Turguenev. É através de Chernishevski, com seu romance-manifesto Que fazer? (1863), e de M.Y. Saltikov-Schedrin, com Os Senhores de Golovliov (1876), que se chega aos dois universais romancistas russos do séc. XIX: F.M. Dostoievski (intérprete das inquietudes da alma, dos conflitos da consciência e do espírito em Crime e Castigo 1866; O Idiota, 1868-1869; Os Irmãos Karamazov, 1879-1880) e L.N. Tolstoi (cantor da vida e analista dos valores existenciais em Guerra e Paz, 1865-1869; Ana Karenina, 1875-1877). Tolstoi defendeu o amor fraternal e o retorno a um cristianismo primitivo e mais autêntico, reivindicou a vida rural e condenou a indústria capitalista. Após 1860, o debate político torna-se tema predominante (T.Belinski). Paulatinamente, a literatura pauta-se não apenas por critérios literários, mas também por conceitos de utilidade e moralidade. Valorizam-se os escritores "cívicos" em relação aos seguidores da "arte pela arte" (A. Tolstoi, Polonski). Com A.P. Chejov aparece uma voz totalmente nova na literatura russa, figura central da geração de fim de século, que revitaliza a corrente realista e se destaca especialmente como contista e dramaturgo, com obras como A Gaivota (1896), ou O Jardim das Cerejeiras (1904). O realista M. Gorki com Os Baixos Fundos (1902) e A Mãe (1907), após a Revolução, tornar-se-á símbolo da literatura soviética, precedente do realismo socialista. Após o naturalismo e o positivismo, a influência ocidental provoca o nascimento do simbolismo russo, profundamente relacionado com o francês: A.A. Blok, talvez o poeta russo mais importante de inícios do séc. XX, V. Soloviov, V.Y. Briusov, K.D. Balmont, Z.N. Hippius e V.I. Ivanov. Na prosa, brilham D.S. Merezhkovski, L.N. Andreiev, A. Bielyi, I.A. Bunin, premiado com o Nobel, A.I. Kuprin e A.S. Serafimovitch. No teatro, aparecem novos conceitos cênicos e interpretativos (Stanislavski, Nemirovich-Danchenko, Meierjold e Vajtangov). O realismo tradicional e o simbolismo decaíram antes da I Guerra Mundial. A Rússia aderiu ao vanguardismo, especialmente ao acmeísmo (N.S. Gumiliiov, O.E. Mandelstam e A.A. Ajmatova) e ao futurismo (V.V. Jliebnikov e V.V. Maiakovski). Após a Revolução de 1917, a literatura soviética ficou dividida em três ramos: os emigrados, aos quais pertenciam escritores como Nabokov ou Tsvetaieva; os literatos oficiais, Gorki; e, por último, os escritores não oficiais, autores do samizdat ou, simplesmente, de obras não publicadas até muito depois da sua criação. Na década de 1920, proliferaram as associações de escritores proletários com o objetivo de definir e consolidar a estética marxista; muitas acabaram no sectarismo e no ataque à crítica formalista (Opoiaz, Shklovski, Eijenbaum, Tinianov, O. Brik), aos vanguardistas preocupados pela linguagem (Esenin, Maiakovski, os construtivistas) e aos escritores apolíticos. Na poesia, destacaram-se Esenin, Tijonov, N. Aseiev e B. Pasternak; na prosa, I. Babel (assassinado durante o stalinismo), M. Bulgakov, V. Ivanov, A. Veselii, A. Tolstoi e M. Sholokhov, autor de O Dom Silencioso (1928-1940), contemplado depois com o prêmio Nobel. Durante a década de 1930, as associações de escritores agrupam-se na União de Escritores, que adotou em 1934 o realismo socialista como estilo oficial e se tornou o organismo dominante da literatura soviética. A situação internacional introduziu na literatura russa uma temática antifascista e patriótica, desenvolvida durante a II Guerra Mundial. Durante a última etapa do stalinismo, a literatura entrou em notória decadência, oprimida pelo realismo socialista. As medidas tomadas pelo XX Congresso (1956), após a morte de Stalin, favoreceram uma certa democratização da vida social, da qual beneficiou a literatura soviética; contudo, Pasternak teve de renunciar ao prêmio Nobel em 1958 e não pode ver publicado Doutor Jivago (1ª edição em Itália, 1957). Na década seguinte, a literatura soviética alcançou uma tímida recuperação, embora as medidas impostas por Breznev (processo de A. Siniavski e Y. Daniel em 1966) provocassem uma segunda vaga de emigrantes: os prêmios Nobel Brodski e Solzhenitsin (Arquipélago Gulag, 1973-1975), Siniavski ou Zinoviev. No país, permaneceram Yevtushenko, Nekrasov, Ehrenburg, Trifonov e Rasputin. A glastnost abrandou a censura e publicaram-se obras até então proibidas. A queda do regime soviético teve enorme efeito sobre a literatura em língua russa: retorno de escritores exilados (Solzhenitsin), publicação não censurada de obras como Doutor Jivago e o acesso livre do público russo a inúmeras obras da literatura ocidental. Terminou também a divisão entre a literatura oficial e a não oficial. Durante a década de 1990, predominou uma variante do pós-modernismo. Destacaram-se os romancisas V. Makanin e A. Azolski, e, entre os novos valores, A. Melikhov. Na poesia, distinguiram-se A. Kushner e T. Kibirov. MúsicaAs primeiras manifestações musicais eslavas orientais são constituídas por simples cantos de extensão melódica limitada, inspirados na vida social e na passagem das estações. A música sacra, cuja presença data de 988, ano da conversão russa ao cristianismo, contribuiu enormemente para a formação de um patrimônio musical nacional. No séc. XVII, foi introduzida a notação musical em cinco linhas, realizou-se um grande trabalho de revisão e classificação de toda a música litúrgica, e, apesar da oposição oficial, a música sacra foi enriquecida com formas ligadas à tradição ocidental. A partir de 1750, a estadia de músicos de grande fama, sobretudo italianos, nos principais centros russos contribuiu para o nascimento de uma música culta nacional. Sob a sua influência, nos finais do séc. XVIII já se afirmaram compositores russos: Y.I. Fomin, M. Matinski e V.A. Pashkevitch no teatro, J. Kozlovski no gênero vocal e I. Jandoshkin no instrumental. No século seguinte, a assimilação da música ocidental manifestou-se com S.N. Titov, N.A. Titov, A. Varlamov e A.F. Lvov, autor do hino nacional Deus salve o Tsar (1833). O principal iniciador da escola nacional foi M.I. Glinka, que criou uma fusão pessoal entre melodias, harmonias e ritmos da música folclórica russa com formas e técnicas da ópera italiana. O seu sentido de orquestração foi recolhido por A. Dargomyzhsky e pelos membros do Grupo dos Cinco, constituído por M.A. Balakirev, T.A. Kiui, A.P. Borodin, N.A. Rimski-Korsakov e M.P. Musorgski. O significado da obra de Musorgski foi muito mais além que a dos outros membros do grupo através da procura de um novo caráter vocal modelado sobre as inflexões da linguagem falada, as harmonias e seus ritmos selvagens. Outros compositores seguiram o caminho do Romantismo alemão ou procuraram no ecletismo formas de expressão válidas (A.G. Rubinstein, P. Tchaikovski, A.K. Liadov, A.S. Taneiev, A.S. Arenski, A.K. Glazunov, A.N. Scriabin ou S.V. Rakhmninov). A grande personalidade da composição russa, I. Stravinski, contou com uma tradição de gosto claramente ocidental. Outros destacados músicos contemporâneos foram S.S. Prokofiev, D.D. Shostakovitch, A.I. Khatchaturian, D.V. Kabalevski, E. Denisov, A. Schnittke, V. Silvestrov e N. Tishchenko.
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